Antevisão das 6 Horas de Spa-Francorchamps WEC de 2016

A mítica prova belga de Spa-Francorchamps, como vem sendo habitual, é uma espécie de ensaio para as 24 Horas de Le Mans, onde diversas soluções aerodinâmicas são testadas a fim de serem aplicadas na corrida nevrálgica de toda a temporada de endurance. Mas, se no ano passado a Audi e a Porsche utilizaram 3 carros cada nas corridas de Spa e Le Mans, este ano não o irão fazer devido um acordo de redução de custos entre as três marcas presentes na categoria LMP1-HY, motivado pelo escândalo “Dieselgate” que abalou o grupo Volkswagen a ponto deste ter de reduzir o seu investimento no desporto automóvel. Ainda assim, deu para ver que, na corrida inaugural do WEC 2016, as 6 Horas de Silverstone, as três marcas – Audi, Porsche e Toyota – evoluíram face ao ano passado, sobretudo a Audi e a Toyota; a Audi, porque estreou uma nova carroçaria, claramente mais aerodinâmica, e um novo pacote de motorização hibrida, que lhe confere mais potência elétrica a partir de um nova bateria de iões de lítio, motivando a sua mudança para a classe dos 6 Mj, mas também uma maior eficiência no consumo de combustível; a Toyota, porque estreou o modelo TS050, cuja carroçaria é uma evolução lógica do TS040, sustentada por um novo chassis, mas sobretudo estreou um novo motor biturbo de injeção direta, de arquitetura de 6 cilindros em V com abertura a 90 graus e uma nova bateria de iões de lítio, do mesmo tipo que é usado nos carros de estrada, que será explorada até ao limite de modo a aplicar o seu nível de desenvolvimento nos novos modelos de estrada. A Porsche estreou uma nova geração de baterias de lítio e o primeiro de três pacotes aerodinâmicos que serão usados ao longo de toda a temporada. De resto, a não ser a decoração de tons mais escuros, o modelo mantém-se praticamente igual. Para além das equipas oficiais, as equipas privadas da categoria LMP1, Rebellion Racing e Bykolles Racing Team foram, mais uma vez, as únicas equipas não-HY a confirmarem a sua presença em todo o WEC 2016. A romena Bykolles Racing Team apresentou uma evolução do seu anterior modelo, com um nariz algo semelhante com o da Audi.

 17th April - Car # 7 / AUDI SPORT TEAM JOEST / DEU / Audi R18 Hybrid / Marcel F © Adrenal Media - AdrenalMedia.com


17th April – Car # 7 / AUDI SPORT TEAM JOEST / DEU / Audi R18 Hybrid / Marcel F
© Adrenal Media – AdrenalMedia.com

Fazendo uma breve retrospetiva sobre a prova britânica, ainda na categoria LMP1-HY, a Audi mostrou um andamento semelhante ao da prova do ano passado, muito embora tenha beneficiado do facto da Porsche ter tido problemas, seja pelo facto de o Porsche #1 se ter despistado numa curva rápida, após uma trajetória mal calculada por parte de Brendon Hartley que provocou o abalroamento do Porsche 911 RSR da equipa KCMG, que este ano optou pela ingressão na categoria GTE-AM em detrimento dos LMP2. Não obstante o facto do Audi #8 ter abandonado pouquíssimo tempo depois do despiste daquele Porsche, por problemas na unidade híbrida que teve princípios de incêndio, a luta manteve-se animada entre os dois carros germânicos que se mantiveram em pista – o Audi #7 conduzido por Lotterer/Fässler/Tréluyer e o Porsche #2 conduzido por Lieb/Jani/Dumas – até ao momento em que, numa manobra de dobragem ao Ford GT #67 da Ford Chip Ganassi UK, os dois carros se tocaram e o Porsche ficou preso na relva, perdendo cerca de 10 segundos antes de voltar à pista com marcas da terra enlameada. Mas, apesar de o Audi #7 ter cortado a meta em primeiro e os seus pilotos ter festejado no pódio, devido a um desgaste do fundo plano em madeira superior ao permitido, a Audi apenas conseguiu levar o ponto da pole position para casa por causa da consequente desclassificação. Quanto aos Toyota, o #5 teve uma prova para esquecer devido ao furo do pneu traseiro direito que chegou a provocar danos na zona da carroçaria em torno da roda, o que motivou o 16º lugar na corrida a 24 voltas do vencedor. Quanto ao #6, o 2º posto reflete um andamento seguro e sem problemas, apesar alguma falta de consistência e de eficácia em andamento puro.

 17th April - Car # 43 / RGR SPORT BY MORAND / MEX / Ligier JS P2 - Nissan / Ricardo Gonzalez (MEX) / Filipe Albuquerque (PRT) / Bruno Senna (BRA) - WEC 6 Hours of Silverstone - Silverstone Circuit - Towcester, Northamptonshire - UK © Adrenal Media - AdrenalMedia.com


17th April – Car # 43 / RGR SPORT BY MORAND / MEX / Ligier JS P2 – Nissan / Ricardo Gonzalez (MEX) / Filipe Albuquerque (PRT) / Bruno Senna (BRA) – WEC 6 Hours of Silverstone – Silverstone Circuit – Towcester, Northamptonshire – UK
© Adrenal Media – AdrenalMedia.com

Como é habitual, a luta nos LMP2 foi renhida de princípio ao fim. Neste último ano com a atual configuração de LMP2, foram várias as estruturas desportivas que apresentaram 2 carros cada uma. Uma das grandes novidades foi a aliança entre a Jota Sport e a G-Drive Racing que resultou numa estrutura desportiva única com 1 carro carro com cor laranja, modelo Oreca 05, o mesmo modelo usado pela Manor Racing (sim, a mesma que tem uma equipa de Fórmula 1) e pela mítica marca Alpine (com dois carros, um a cargo da Signatech, o outro da Baxi CD Racing). A SMP Racing fez alinhar dois exemplares do BR01, enquanto que a Extreme Speed Motorsport alinhou com 2 modelos Ligier JS-P2, um deles cujo plantel de pilotos inclui o rapidíssimo piloto brasileiro Luís Felipe Derani que levou a versão com motor Honda à vitória nas 24 Horas de Daytona e nas 12 Horas de Sebring. A nova equipa mexicana RGR Sport By Morand, do mexicano Ricardo Gonzalez, que para além de patrão também é piloto e teve a sensatez de convidar o brasileiro Bruno Senna (pois claro, o sobrinho do saudoso Ayrton que também já esteve na Fórmula 1, mas sem o mesmo sucesso do tio) e o nosso português Filipe Albuquerque para o acompanhar na luta pelo título nos LMP2, também alinhou com o Ligier JS-P2, tendo conseguido vencer após uma grande condução de Senna e outras seguras performances dos seus companheiros, depois de terem conseguido um modesto 3º lugar na grelha de partida e lutando com tremenda eficácia com o carro #31 da Extreme Speed Motorsports e o #26 da G-Drive, os quais acabaram nos 2º e 3º lugar do pódio.

 17th April - Car # 97 / ASTON MARTIN RACING / GBR / Aston Martin Vantage / Richie Stanaway (NZL) / Fernando Rees (BRA), Car # 26 / G-DRIVE RACING / RUS / Oreca 05 - Nissan / Roman Rusinov (RUS) / Nathana © Adrenal Media - AdrenalMedia.com


17th April – Car # 97 / ASTON MARTIN RACING / GBR / Aston Martin Vantage / Richie Stanaway (NZL) / Fernando Rees (BRA), Car # 26 / G-DRIVE RACING / RUS / Oreca 05 – Nissan / Roman Rusinov (RUS) / Nathana
© Adrenal Media – AdrenalMedia.com

Uma das grandes novidades da categoria GTE-Pro foi a estreia da nova regulamentação GTE, que se caracteriza sobretudo pelo uso de um difusor/extrator traseiro e um pack aerodinâmico mais pronunciados. A Ferrari, representada pela AF Corse, estreou dois novos exemplares do seu novo 488 GTE que estreia um novo motor V8 com dois turbos, que rompe com a tradição dos motores atmosféricos e sua característica sonoridade Ferrari. O tão esperado Ford GT, também com dois exemplares, foi estreado pelo ramo britânico da Ford Chip Ganassi Team (UK). A Aston Martin e a Porsche Motorsport adaptaram os seus respetivos modelos Vantage V8 e 911 RSR às novas regras GTE. A Porsche faz-se representar este ano pela Dempsey-Proton Racing que transitou da categoria GTE-Am, mas sem o piloto Patrick Dempsey pois este decidiu despedir-se da carreira de piloto para se dedicar à família e à sua carreira de ator por inteiro (até porque já completou 50 anos); o seu carro #77 teve problemas mecânicos motivados pela quebra da suspensão da roda direita da frente, tendo de rumar às boxes para reparação e terminando no penúltimo posto da categoria a uma distância de 13 voltas do vencedor, o Ferrari 488 GTE #71 conduzido por Davide Rigon e Sam Bird. A Aston Martin Racing teve apenas como melhor resultado um terceiro lugar com o carro #95.

 17th April - Car # 83 / AF CORSE / ITA / Ferrari F458 Italia / Fran © Adrenal Media - AdrenalMedia.com


17th April – Car # 83 / AF CORSE / ITA / Ferrari F458 Italia / Fran
© Adrenal Media – AdrenalMedia.com

A que é aparentemente considerada a categoria menos interessante, a GTE-AM, manteve os carros da especificação do ano passado e só irá estrear a nova regulamentação em 2017. Rui Águas e Pedro Lamy conseguiram um grande resultado para Portugal: a vitória para Rui Águas e o segundo posto para Pedro Lamy, que fez uma grande recuperação a partir do 6º lugar. A Gulf Racing fez a sua estreia (ou reestreia) com um velho Porsche 911 RSR e teve de abandonar a corrida devido ao tal abalroamento por parte do Porsche 919 Hybrid #1 conduzido por Brendon Hartley (claro erro de trajetória por parte deste que acabou com a corrida de ambos os Porsche das diferentes categorias).

As 6 Horas de Spa-Francorchamps prometem ser emocionantes, sobretudo porque a prova belga serve de antecâmara da clássica francesa. A corrida é já no próximo sábado, 07/05/2016, pelas 13:30h (hora portuguesa), tendo transmissão no Motors TV. Não percam esta corrida, que promete muita ação (e emoção), com os melhores e os mais belos carros do mundo. Como aperitivo, fica o belo resumo oficial da FIA/ACO sobre a corrida inglesa que iniciou com pompa e circunstância o WEC 2016.

Sobre António Barroso Ricardo

Nascido em Lisboa a 25 de Março de 1981, mudou-se para o Porto aos quatro anos, onde vive atualmente. Paixão por automóveis já existe desde pequenino. Portista de gema e fã incondicional de Ayrton Senna.
Esta entrada foi publicada em Arquivo Morto, Crónicas. ligação permanente.

Deixe um comentário